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O Brasil dos Imigrantes

Texto de Elias Alves dos Santos

De 1830 a 1930, estima-se que 50 milhões de imigrantes tenham aportado no Brasil, a maioria desejando “fazer a América”, como diziam, e logo voltar para suas pátrias de origem. Outros, com um otimismo excessivo (mas não sem certo fundamento) em relação ao país, viam-no como a terra da promissão, um paraíso onde todos os seus problemas estariam resolvidos.

Inicialmente, houve uma pequena onda imigratória a partir de 1808, com o franqueamento dos portos às nações amigas por D. João VI. Nesse momento vieram alemães e franceses, os primeiros visando colonizar as regiões meridionais por razões territoriais e militares. Em 1824, D. João trouxe, da Ásia (Macau), os primeiros chineses, visando implantar um fracassado projeto de cultivo de chá. Já em 1830 essa primeira vaga tinha sido encerrada.

O segundo momento imigratório se iniciou pouco antes da extinção do Tráfico Negreiro em 1850. Ocorreram inicialmente tentativas de substituição do trabalho escravo pelo livre, mas estas falharam retumbantemente.

A terceira fase deu-se no último quartel do século XIX, intensificando-se na passagem deste para o seguinte. Ela ocorreu por problemas diversos devidos ao aprofundamento das contradições do capitalismo na Europa (expulsão dos camponeses de suas terras, excesso de mão de obra nas cidades industriais, etc.). Muitos europeus vieram para as Américas, alguns dos quais para o Brasil que demandava sua força de trabalho e sua “raça” visando, respectivamente, suprir a mão de obra escravizada já condenada a desaparecer e embranquecer a população, livrando o Brasil do estigma da escravidão. Na verdade, as preocupações com a “civilização” e a “purificação” do povo brasileiro através de práticas de eugenia já vinham desde os tempos imperiais. O imigrante europeu teria, na ótica da burocracia imperial e depois republicana, um papel crucial nesse processo.

A vinda dos recém-chegados foi muito difícil. Sua condição mais lembrava uma semiescravidão por dívidas. Em um país onde as elites estavam acostumadas ao trabalho compulsório dos negros, o patrão, que adiantava a passagem, alimentação, transporte, moradia, sementes e outros meios de produção, achavam-se no direito de explorar livremente a mão de obra dos estrangeiros.  Muitos deles trabalhariam no regime de colonato, onde o patrão pagava parte do salário em dinheiro e a outra parte se dava pelo direito de cultivo de itens de subsistência que poderiam ter excedentes comercializados.

A vida dos europeus aqui não foi tão bela quanto os agenciadores da imigração quiseram fazer ver nos países de origem. Houve choques culturais e sociais intensos entre habitantes de regiões do mesmo país de origem, a exemplo dos italianos, ou entre imigrantes de culturas totalmente diversas como os do Oriente em relação aos brasileiros e demais europeus. Muitos eram atemorizados pelo indígena autóctone que não reconhecia os “invasores”. O isolamento a que os que se dirigiam às regiões mais ao sul estavam submetidos levou a vários casos de depressão, sobretudo entre as mulheres.

No ambiente pobre das cidades, os imigrantes viviam em cortiços e disputavam com a população pobre das capitais o espaço nos cortiços. Lá viveriam sem qualquer privacidade, tendo sido relatados muitos casos de relações incestuosas.

Por todos esses motivos, os imigrantes desenvolviam forte espírito associativo, agrupando-se em agremiações políticas, a exemplo dos anarquistas, sociedades de socorro mútuo e clubes esportivos.

Apesar disso tudo, conseguiram alguma ascensão social, sobretudos nas cidades, onde havia maior dinamismo.

O estranhamento dos costumes era geral. Alguns não toleravam as milenares práticas de higiene típicas dos outros: os japoneses banhavam-se pelo menos uma vez ao dia e não tinham medo de se despir e se lançar livremente nos rios para realizar seu asseio corporal; por outro lado, alguns italianos só tomavam banhos aos sábados e tinham a prática de tirar os piolhos dos filhos na frente de todos.

 Acrescenta-se a isso a dificuldade com os novos alimentos. Os japoneses, por exemplo, não entendiam que tinham de deixar o bacalhau e o charque em água para amolecer e dessalgar, sem falar do nojo em comer o porco, devido à forma como este era morto e limpo.

É difícil não notar o caráter dificultoso do processo de chegada dos novos imigrantes num contexto de exclusão política e social de vários setores sociais quando dos primeiros anos Republicanos. Por causa disso, muitos deles revoltaram-se nos campos ou aderiram às propostas anarcossindicalistas que circulavam nos grandes centros urbanos.

Seja como for, não se pode negar sua contribuição à cultura brasileira. Foram responsáveis, entre outros elementos, pela introdução do pão, item corriqueiro de nosso café da manhã, de animais domésticos e de consumo, de frutas inexistentes como a maçã, a uva e o vinho italianos; de palavras como “galego”, “pizzaiolo”, “esfiha”, entre diversas outras.

Por volta de 1930, a imigração em massa cessa. Somente os japoneses continuarão a chegar durante algum tempo.

Atualmente vê-se uma nova onda imigratória sobre o Brasil, mas agora ela consiste principalmente em asiáticos (coreanos e chineses) e moradores de países limítrofes, como Argentina, Bolívia e Paraguai.

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João Batista Correa

Sou João Batista Correa, formado em história e pedagogia. Especialista em Brasil colônia e mestre em história. Dedico minhas pesquisas sobre a história do Brasil, mais especificamente das cidades do Rio de Janeiro, Leme, Pirassununga e Santa Cruz da Conceição. Alem de historiador, sou músico e educador musical. Autor dos livros: Santa Cruz onde a Ferrovia não Passou: Escravos e Imigrantes na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, 1836-1898; e Escravidão e Liberdade na Imperial Fazenda de Santa Cruz.

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Sou João Batista Correa, formado em história e pedagogia. Especialista em Brasil colônia e mestre em história. Dedico minhas pesquisas sobre a história do Brasil, mais especificamente das cidades do Rio de Janeiro, Leme, Pirassununga e Santa Cruz da Conceição. Alem de historiador, sou músico e educador musical. Autor dos livros: Santa Cruz onde a Ferrovia não Passou: Escravos e Imigrantes na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, 1836-1898; e Escravidão e Liberdade na Imperial Fazenda de Santa Cruz.

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